quarta-feira, 4 de abril de 2007

Pop Corns

Fruto do acaso, a família foi contemplada com bilhetes para o espectáculo “Disney on Ice-Princesas”.

Pouco apreciador de espectáculos infantis, a condição da paternidade foi-me levando a mudar de opinião. O facto de possuirmos uma responsabilidade acrescida perante um ser muito pequeno, leva-nos a sacrifícios inauditos. Começamos pelas noites sem dormir, passamos pelas não saídas, e acabamos por abdicar da parte do meio da torrada. Outro exemplo, pelo menos no meu caso, foi o passar a assistir a alguns espectáculos infantis. Surpreendentemente, confesso, gostei de praticamente todos eles, deixando os mesmos de figurar na categoria de sacrifícios.

Assim, não foi, de todo, angustiante saber da sorte que nos tinha calhado.

As 20:00h a que tinha início o espectáculo causava problemas, pois impedia-nos de jantar e prometia uma correria louca do Cacém até Lisboa. Cheguei a casa às 19:35h.

Carregar com a cria não foi mais difícil do que habitualmente, à excepção da garrafa de água que ficou esquecida e do bollycao que ela me roubou (lá se foi o meu jantar). Os brinquedos foram com ela, o casaco, o gorro, a fruta e as bolachas também.

Ao chegar ao Pavilhão Atlântico (20:10h), não me surpreenderam os vários progenitores que corriam apressados com crias às cavalitas e juvenis arrastados pelas mãos. Também aqueles carregavam a dose extra de agasalhos e de alimentos prontos a regurgitar.

“Que bom”, pensei. E é realmente bom quando não somos os únicos. Até os Xutos perceberam isso.

Entretanto comecei a ficar um pouco cansado de ver todas as princesas e príncipes encantados a desfilar perante os olhos de uma multidão de crianças eufóricas e pais convencidos, sob forma de atletas olímpicos frustrados ou com alguns anitos a mais… tudo ao som dos filmes que quase todos tivemos de ver dobrados em português. Nunca mais chega o intervalo…

Quando este chegou, revelou-se fatal o esquecimento da garrafa de água. Lá tive de me levantar, passar por todos os Joões Marias, Tomáses e Marianas que, eufóricos, sucumbiam às tentações dos souvenires estrategicamente dispostos às saídas do recinto. Os mais novos eram acompanhados pelas mães de fraldas de papel “Dodot” na mão. Depois de ter pago 1.50€ pela garrafinha de água, fui contagiado pelo rebuliço. Dirigi-me a uma das inúmeras bancas de pipocas e resolvi esperar pela minha vez. Reparei que só havia uns baldes de plástico (enfeitados com motivos da Disney) com um banal saco de pipocas lá dentro. Ao lado, estavam dispostas várias bolas de algodão doce (também elas fechadas num hermético saco de plástico), adornadas por uma coroa de princesa, dourada, que segurava as orelhas da Minie (ou do Mickey, caso o comprador fosse do sexo oposto). Á medida que me aproximava da banca, ia conseguindo escutar as vozes dos pobres rapazes e raparigas que, uniformizados de acordo com o ambiente princepesco, i.e., de farda dourada traçada ao peito com fita ainda mais dourada, e obrigados a usar na cabeça um ridículo chapéu de soldadinho de chumbo (uns) ou um boné de basebol azul identificando-os com o famoso criador dos desenhos animados (outros), se esforçavam por ouvir o que quer que seja no meio do eco provocado por centenas de vozinhas estridentes que se multiplicavam e sobrepunham umas às outras, fruto da ganância dos mais pequenos.

Finalmente chegou a minha vez e, espantado, oiço a voz do pobre rapaz: “Pop Corns?”
Obviamente respondo: “Sim, pipocas!”
“Sorry?”



Não podia ser… o gajo era americano! Os pobres rapazes e pobres raparigas, eram americanos!

E eu com pena deles… a imaginar quantos ainda teriam de ir estudar para a frequência do dia seguinte. E eu agradecido por existirem empresas de trabalho temporário que permitiam aos nossos jovens (universitários ou não) ganhar uns trocos para depois os gastarem em cervejas, roupas, cd’s ou ipods…

...

“Yes, pop corns, please! How much is it?”
“8 euros, please!”



“And the sweet cotton?”
“9”



Voltei para o recinto com a minha preciosa garrafinha de água e, novamente, cheguei à conclusão que somos o cú da América!

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