sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Tribuna Secunda

Aulas de Inglês e de Informática a crianças cuja experiência de vida não ultrapassava os 10 ciclos terrestres. Durou 8 anos. A tribuna era mais formal, mas nem por isso menos dinâmica.

Os pais também mos confiavam, mas a confiança era mais diluída. Não havia o risco da(e) vida. Não havia o frente a frente. As reuniões de pais não contam para professores de Inglês e de Informática num colégio particular (nem nos outros). Somos aqueles que ensinam os filhos a fazer gracinhas. Pelo menos para a grande maioria dos pais.

Chegava à escola e, até chegar à sala de aula, o meu peso triplicava consoante o número de crianças que me conseguia apanhar por entre os livros, gorros coloridos, "bolicaus" e mochilas com rodinhas.

Os risos gargulhentos (de gargalhada + barulho e entos), as canções que aprendíamos, os jogos que trocávamos e as cavalitas que corríamos, faziam-me sentir um pouco mais importante do que realmente o era. Quem disse que o sorriso de uma criança vale tudo, sabia o que dizia.
É fascinante observar a sua evolução… não só aprendem realmente rapidamente, como crescem ferozmente velozmente.

Ainda hoje, quando raramente sou reconhecido por um dos meus alunos (é impressionante, também, a sua capacidade de esquecer), a primeira coisa que oiço é a sua voz, pequena como eles o eram, a reclamar a minha atenção:

“Teacher! Teacher!!”

A minha tribuna era uma carteira (mesa e cadeira da escola primária) de madeira, riscada e velha, que, apesar de muito usada, e vista à distância do tempo, nunca me pareceu uma verdadeira tribuna.

Se calhar porque nunca a subia.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Tribuna Primeira

Antes de acabar a faculdade já me dedicava a modificar (?) o comportamento de jovens que me eram confiados (pelos pais, quem mais poderia ser). Fosse encostado num canto húmido e mal pintado da Sede dos Escuteiros, sentado num qualquer tronco ainda por queimar numa fogueira que mais tarde serviria para consumar o Fogo de Conselho ou empoleirado no cimo de um marco geodésico batido pelo vento frio mas agradável que parecia esperar que os rapazes lá chegassem, de todas estas formas me vi servida a tribuna.

O anseio de mudar a “sociedade”, começando pelos mais jovens, o acreditar que esta vida só faz sentido porque morremos, o tentar transmiti-lo a malta que, com os seus 16 anos, não sabe sequer que há limites (sejam eles quais forem…), o, desesperadamente, querer deixar este mundo um pouco melhor do que o encontrei … isto já para não falar nas técnicas de sobrevivência, os nós e as amarrações, as noções de orientação e de socorrismo, os rádios e as mochilas… eis as razões que, vistas agora, julgo ou penso, me fizeram subir pela primeira vez os degraus da dita.

Ainda não os desci.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

TRIBUNA

Olhando para trás, e após uns quantos meses de reflexão (fruto provável da colheita dos 35), descobri que a minha vida de adulto tem tido uma relação quase incestuosa com semelhante objecto.

Não consigo deixar de pensar nisso…

Estou, mas estou mesmo, bastante assustado.

Serei um sofista?

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Artaud

Só por curiosidade...





"Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.

Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre morto.

Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.

Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.

Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria."

Teste da Treta

Pois é... Nunca faço destas coisas, não tenho tempo, não tenho pachorra, acho mesmo uma seca.

Não sei como, dei por mim a fazer este.

E não é que saiu o...





Faça você também Que
gênio-louco é você?
Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia


quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

XUTOS E PONTAPÉS

Numa altura de reflexão, paz, amor e partilha com os nossos irmãos seres pensantes, vejo-me rodeado de trabalho, prazos, obrigações e sentimentos de culpa pelas mil e uma tarefas que vou adiando por falta de tempo.

Estou com trabalho até à ponta dos cabelos!!!

O leito é o principal prejudicado, uma vez que não é aquecido com as horas habituais.

Hoje, enquanto observava os irmãos pensantes, confortavelmente instalados nos seus aquários, resolvi mudar da TSF para a Antena3. Estava o trânsito completamente parado. Os sons que invadiram o Gerónimo não poderiam ser mais familiares. Estão a dedicar o dia de emissão ao lançamento dos DVD’s dos Xutos. Por momentos esqueci-me que estamos no Natal, que temos de ser simpáticos, que temos de comprar prendas, que temos de reflectir e que temos de estar felizes. Esqueci-me, foi isso.

Ao som dos “Barcos Gregos” senti-me invadir por uma sensação de bem estar indescritível…Vi-me num comboio em direcção à queima das fitas de Coimbra, senti o cheiro dos cigarros e do vinho barato, aqueci-me com os cabelos de estudantes vestidas de negro. O frio era uma desculpa para bebermos mais uns copos e as conversas giravam à volta de metafísicas e desejos carnais. Dirigia-me para o “States”, já altas horas da madrugada, com as minhas botas da tropa encardidas pelo pó e pelos muitos encontrões manchados de álcool entornado no concerto embriagado à beira Mondego…

“Paiiii, Não canta!!”

E eu calei-me.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

CHOURIÇO

Pois é… o João lá se casou…

Porra que a Guarda é uma cidade fria!!!! E o Fundão também!!!! Pelo menos até começarmos a beber uns copos. Aí o ambiente torna-se confortavelmente mais ameno, marcado pelo ritmo a que o nosso coração bombeia o álcool até aos vasos capilares instalados no nosso córtex lobular frontal esquerdo.

Gostei especialmente da sensação de sair de Lisboa, com o PT a conduzir, as mulheres lá atrás e o som do “Bairro Alto” a reviver extravagâncias por nós. Um misto de adolescência (som, aventura, álcool) com adultescência (casamento, família, tradição) invadiu-me como uma droga que ainda não deixou de fazer efeito… pelo menos completamente… ressaca boa…

Ontem telefonei-lhe para saber como estava, aproveitando para lhe pedir meias desculpas. É que ficar até às 5 da matina na suite nupcial a cantar músicas infantis (são as únicas que agora sei de cor) e a fumar charuto não é pêra doce. Também demos cabo do minibar.

Piiii…Piiii…Piiii

“Estou sim?“

Não era a voz do chouriço. Quem atendia era a, agora, esposa.

Está cumprida a primeira professia do casamento.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

AQUÁRIO

Desde que comecei a dar aulas em Lisboa, passei também a utilizar os transportes públicos. O Metro, para ser mais preciso.

Confesso que, ao contrário de quase todos os nossos contemporâneos, a situação me deleita.

Adoro envolver-me na multidão desconhecida, mergulhar nos sons e nas cores dos outros, escutar conversas e toques de telemóveis baratos, cantar as cantilenas dos cegos e cheirar os perfumes das alunas das escolas secundárias.

Reparei, como se não o soubesse, que Lisboa está mesmo uma cidade cosmopolita. A profusão de línguas, cores e culturas que se encontram numa única carruagem do Metro é algo de extraordinário. Desde o russo ao paquistanês, passando pelo criolo e pelo chinês, todos resolveram submergir num submarino subterrâneo só para me alegrar.

E sempre que passo o cartão azul pela máquina mágica (pip…pip), recordo-me dos meus tempos de aquário, em que comunicava com o mundo por intermédio de sinais de luzes, gestos grotescos, suspiros profundos e aumentos voluntários do som da TSF.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

TPC

Uma das coisas que sempre me fez confusão, foi o facto do João me dizer constantemente, e independentemente da hora a que lhe telefonava, que estava a trabalhar.

Eu nunca considerei os períodos que passava em casa em frente ao computador como trabalho. E, acreditem, sempre passei horas em frente ao computador.

Antes de mais deixem-me falar um pouco do João. Ele é um dos meus amigos mais antigos. Conheci-o no 10º ano, numa das escolas secundárias do Cacém. Depressa nos tornámos grandes companheiros de bebedeiras e experiências apreciadas pela adolescência. Enquanto eu estudava filosofia na Nova, ele preferiu a gestão das privadas. Hoje é uma espécie de director de recursos humanos de uma multinacional na área da construção civil (não sei se será director, mas o certo é que tem carro da empresa, cartões de gasolina e essas coisas que só se vêm nos filmes). Posso considerá-lo um dos meus melhores amigos, e tanto assim é que foi consensual a escolha dele para padrinho da minha filha.

Acontece que se vai casar para a semana e, como não poderia deixar de ser, lá irei eu fazer de conta que me divirto até começar a beber uns copos.

Mas, contava eu, mesmo quando lhe telefonava num domingo à noite e lhe perguntava o que estava a fazer, a resposta era invariavelmente a mesma: “Estou a trabalhar!” Se lhe telefonava sexta e lhe perguntava o que ia fazer no fim-de-semana que nascia, respondia: “Tenho de trabalhar!”

Então e eu? Eu também estava em frente ao PC!!! OK, estava apenas a preparar as aulas, a preparar um quadro de progresso para os Pioneiros ou a ultimar as contas do último acampamento. E, claro, isso para mim não era trabalho.

Ultimamente passei a responder da mesma forma sempre que me telefonam e eu estou em frente ao PC ou aí tenho de me sentar. O que é surpreendente é que nunca ninguém estranhou tal mudança de atitude.

Pelos vistos, quando chegamos aos 30 volta a ser normal termos TPC’s.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Hoje fiz 35

E decidi criar o meu primeiro blog.

Ainda não sei bem porquê.

Gostava de o descobrir entretanto.

Desconfio que tem alguma coisa a ver com a eternidade...