terça-feira, 30 de setembro de 2008

Um ano sem acampar



Foi este fim de semana. Pelo menos oficialmente.

Pensei, inicialmente, que fosse fácil. Uma espécie de alívio. Não foi. Depois pensei que o sentimento de perda era de tal forma insuportável que nunca mais passaria. Não Passou. Pelo menos não passou completamente.

Utilizei as mais variadas técnicas. Não telefonei aos rapazes, não fui à Sede, não apareci no café dos bolos a 60 cts nem fui a nenhuma festa de anos. De nada serviu.

Isto porque, sem querermos, cruzamo-nos com uma jarreteira perdida no meio da gaveta das meias, um distintivo que cai para o chão, uma folha de rascunho da última reunião de Clã no meio da desorganização da secretária do computador.

Então decidi canalizar a energia noutra direcção (detesto esta expressão: “canalizar a energia”. No entanto adoro a de: “almoço de trabalho”. Bem fixe, não é?). Sem rapazes mas ligado à organização. Pensei que fosse como quando deixei de fumar. Não fumava mas sentava-me ao pé dos fumadores. Parecia-me que o cheiro acalmava a minha ânsia de nicotina. Assim passei a dedicar-me mais à equipa de formação do Núcleo. Umas reuniões à noite acalmaram um pouco a comichão, mas as Sessões…

As fardas, os jogos, os cânticos, os imaginários, as histórias que se contam, as perguntas de como se faz…

Náh! O corte tem de ser total. Afinal é como nos cigarros: Um dia deixa-se de fumar e pronto!!!! Nunca mais se lhe toca!!!!!

Para o ano vou voltar a ficar sem acampar. Domingo vou comprar uma caixa de pensos de nicotina dos maiores que houver!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Planeta de Agostini

É o que acontece com quem não tem horários, férias, dias feriados nem fins de semana como os outros. O facto da nossa profissão (ou ausência dela) implicar uma acentuada discrepância com o ritmo sindicalista imposto nas sociedades modernas (sim, sindicalista - ou acham que os aristocratas, nobres ou patrões se importavam com a família dos outros? – e sim, sociedades modernas - porque as contemporâneas voltam-se a borrifar para essa coisa da família, da qual eu sou um exemplo acabado), faz-nos perder um pouco a noção dos ritmos sociais.

Sabemos que hoje é Sexta porque, ao sair de mais uma formação, bem perto da meia noite, o carros estão todos revestidos a néon, fazem um barulho enorme e, quando param, o batuque emanado engole o som do nosso próprio rádio, apesar de defendido por vidros violentamente fechados; Não acreditamos que temos lugar para estacionar em frente à câmara municipal até nos relembrarem que hoje é feriado; Recusamo-nos a, eternamente, almoçar com a família e os amigos porque temos aulas (sessões) para preparar, enquanto convidamos os colegas de desprofissão para almoçar em dias sem remuneração garantida (que, curiosamente, nunca calham ao fim de semana).

Os cursos começam a qualquer altura do mês e várias vezes por ano, há uns de manhã e outros à tarde. Muitos à noite. Entretanto interrompem e recomeçam mais tarde. Sim, porque há vários módulos e outros formadores para animar os formandos.

A semana sem mana transforma-se num ano sem amo, com planos e projectos a entregar, livros a ler, exercícios a realizar, sessões a animar, relatórios a efectuar, sumários a assinar, classificações a enviar e mails a responder. Ah, formandos a coordenar e entrevistas a marcar!

Assim, quando surgem os anúncios de televisão desta afamada editora é que me apercebo que o verão acabou e que todos voltam ao que julgam ter terminado.

É que, realmente, dá a sensação de recomeço. E, como recomeçamos, podemos, quem sabe, começar.

Este ano tive outra ajuda.



É que, senão, não sabia!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Hora do Tapete



É um dos poucos rituais a que ainda me obrigo.

O processo é sempre o mesmo: logo a seguir ao jantar, todos nos sentamos no chão. Nem sempre a Mãe chega a tempo. Outras vezes é o Pai que não está. Ela está lá sempre. Ansiosa… sorridente… escarrapachada, às vezes.

Pode durar cinco, quinze ou sessenta minutos. O tempo não importa, o que importa é o que se faz nesse espaço. E, nesse espaço tapete e nesse tempo hora, é ela que decide!

Quase sempre a sua imaginação flúi de acordo com os filmes que vai vendo marcados pelo ritmo da velocidade das transferências que o velhinho PC consegue a partir do seu embrionário cordão pomposamente denominado de ADSL.

Desde muito cedo o Banzé, Bambi e Branca de Neve foram suplantados pelo Rei Leão. Aconchegada com o papel de Simba, leva-me com ela para a Rocha do Orgulho a fim de emitirmos o Rugido dos Reis da Selva. Lutamos com o Scar e caçamos Gnus.

Ultimamente tenho tido muito trabalho. Acresce o facto de as coisas não andarem lá muito bem desde que nasceu o H. Não tenho tempo para nada, não consigo ler, pensar, escrever. A minha vida anda um corrupio e parece que não me consigo encontrar. Ando cansado, triste, esmorecido…

Alegra-me a cerveja que bebo ao jantar e um cigarro fumado quando encontro um amigo que não tenho vergonha de cravar. Nem as páginas de um livro me consolam, já que não tenho tempo de as afagar.

Ontem ela quis brincar à Barbie. “O quê?”
“Sim, papá. Eu sou a Barbie sereia e tu és a Barbie borboleta, pode ser?”

Mas… então e o morcego “ratinho” que lhe dei quando tinha dois anos? E o rato “rato” do IKEA? E a aranha “romena” que lhe trouxe da Roménia? Não serviram de nada?

Afinal, talvez não sejam assim tão poucos. Os rituais, claro.

PS. Juro que nunca fiz o download da “Barbie mariposa e as suas amigas fadas