sexta-feira, 29 de junho de 2007

Quinta Tribuna

Tudo começou em Outubro, quando o Bártolo me telefonou, uma tarde. Era uma tarde como as outras. Estava num intervalo entre formações e escutei a sua sempre agradável voz. Contou-me que ia para a América. Tinha ganho uma bolsa de pós doutoramento e não conseguiria assegurar as aulas que, desde há 8 anos, leccionava no IADE. Perguntou-me se estava interessado. Eu disse que sim.

O Bártolo é uma referência dos tempos da faculdade. Tertúlias. Copos. Viagens e férias juntos. Boleias. Kierkegaard.

Sem nos vermos, telefona-me. Quer saber como estou.

Eu também lhe telefono. Mas menos…

Também tem o cabelo encarapinhado e usa patilhas. Também gosta de música alternativa e de cinema. Também foi para Filosofia porque quis. É um devorador de livros e de amizades. Eu tento.

Fui professor no IADE, da cadeira de Filosofia da Arte e do Design, desde Novembro até hoje.

Pode ser que continue nos domínios da retórica e da sofística, falando de livros e de senhores mortos, de valores e de consumismo, de cultura e de arte, de cyborgs e de implantes.

A pica, a pica do outro mundo, essa já ninguém ma tira!

Obrigado Zé.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Mostra Gastronómica

Estávamos para ir à terra há uns meses. Os feriados não abundavam e, quando apareciam, já tínhamos que fazer.

A vida é assim. Queixamo-nos, mas o arrependimento não se acalma com as lamúrias.

Desta vez é que era. Vinha um feriado aí na nossa direcção e eu não tinha formação no Sábado. Adiei um curso para a segunda seguinte e estava tudo decidido!

Dia 7 lá arrancámos e partimos em direcção ao campo. As viagens para a terra fazem-me sempre sentir novamente um puto de 4 ou 5 anos. Imagino os meus amigos da terra, os quintais que defendia dos inimigos, os campos de milho transformados em savanas impenetráveis, a ribeira onde caçava girinos com 2 pernas.

Parámos na sede do Concelho para comprar mantimentos. Sim, porque na terra já há um LIDL! E foi com surpresa que vimos os anúncios a uma segunda feira gastronómica que iria ocorrer no local, precisamente no fim de semana em causa.


Apesar da minha insistência em realizar a viagem do rejuvenescimento umas 3 a 4 vezes ao ano, nunca tinha ouvido falar em tal coisa… mas o que me mais espantou não foi o ser o segundo evento desta espécie! O que mais me espantou é que um Concelho desertificado, com a pior rede viária do País, praticamente sem Indústrias (honra seja feita à Carriça), com uma população envelhecida, sem médicos e com um dos mais altos índices e percentagens de área ardida do País, aposte em eventos destes!!

Creio que o meu espanto também nada tem de original.

Muitos houve que se espantaram com o Mosteiro dos Jerónimos quando o povo morria à fome. Outros criticaram a edificação do Convento de Mafra em alturas de miséria.

Mas mostras gastronómicas? Festa das tasquinhas? Feiras de artesanato?

Como sendo o ponto alto do programa político de uma Câmara ou de uma região?

Eu continuo sem perceber o que é que esta classe política pensa do País, da sociedade ou do mundo, embora desconfie que a culpa é dos meus olhos e não da vista deles.

Eu lá fui jantar à Junta de Freguesia do Piódão, comer um bom Bacalhau à Lagareiro ensopado em broa de milho caseira, beber um vinho do Dão e uma bela aguardente de mel. Só isso me fez aguentar a Banda Filarmónica do Barril e o Rancho Folclórico de Celavisa.

O País pode estar a arder, mas se lhe derem circo…

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Adolfo Vieira de Brito

Nunca tinha ouvido falar em tal personagem e, de repente, invadiu a minha vida como só os desejos e os medos o conseguem.

Tudo começou há uns meses. Veio de surdina. Aos poucos… como não querendo dar nas vistas.

Primeiro em conversas de intervalo, escondido pelo zapping sôfrego de quem quer passar anúncios mais depressa, a fim de chegar finalmente á segunda parte das séries que passam na 2:.

Depois foi envolto em noticiários e informações de trânsito, nas raras vezes que nos sentamos os dois (ou os três) no mesmo carro e ao mesmo tempo.

Finalmente foi ao jantar. E aí já não pude fugir! Estava encurralado!

Em Março enchi-me de coragem e deixei-me convencer a visitá-lo. Fui mais a M. e não desgostei de todo, embora a sensação desagradável não tenha, nem por sombras, desaparecido.

A semana passada fui lá sozinho…

Depois de preencher não sei quantos papéis, ter repetido vezes sem conta os números de SS, BI e NIF de todos os que vivem cá em casa, fui confrontado, inevitavelmente, com a mais reveladora de todas as decisões: Quem pode vir levantá-la para além dos progenitores?

Triste, cabisbaixo, vencido, escrevi o nome da minha mãe, da minha irmã e da minha sogra.

A partir de Setembro Adolfo Vieira de Brito fará parte das conversas de todos os dias…