sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Infinitamente acompanhados


Já estive em cidades cosmopolitas.

A primeira foi Londres. Lembro-me das cores das pessoas, das suas roupas extravagantes, dos sons que mesclavam de condensação o taciturno nevoeiro que nascia no Tamisa. Tudo era colorido. Até os polícias com os, agora habituais, coletes fluorescentes e chapéus pretos ou axadrezados. Tinha 19 anos e o facto de mergulhar nos sons do mundo fez-me tornar simultaneamente minúsculo e gigante. Nunca me hei-de esquecer da sensação de entrar num café e ouvir, reconhecíveis, 6 ou 7 línguas diferentes.

Depois estive em Basileia (para os imigrantes, Básel) na Suíça. Nesta a sensação foi mais duradoura. Estive 6 meses e o mergulho foi diferente. Passei a fazer parte do ecossistema. Em Londres tinha sido um banho rápido seguido de uma soneca na areia aquecido pelo sol da familiariedade. No restaurante onde eu trabalhava (num deles) estavam representadas 5 nações: Portugal, Tamil, França, Holanda e Jugoslávia. Foi antes da guerra. Agora seriam considerados Albaneses os dois empregados de mesa que me pediam os cafés, os martinis e as São Peligrino. No piso do hospital onde o meu primo encontrou o que em Portugal não havia, estavam representadas 40. Em todo o lado se ouvia tudo, se via de tudo e se podia comer de alguma coisa. Nunca fui tão livre nem tão prisioneiro. Os Suíços têm destas coisas.

A última foi Nova Iorque. Ainda com as torres gémeas a balançarem ao sabor dos ventos que, não fora os pêndulos instalados na sua estrutura, as tentavam derrubar, ela acolheu-nos com a sofreguidão de um vórtice indomado. A grande maçã seduz. A grande maçã conquista. A grande maçã é grande e alimenta. Tanto os que lá vivem como os que a visitam. A sensação de estar no centro do mundo é irreprimível e as analogias com uma Lisboa no ano de 1600 são uma constante. É lá que tudo se passa. As executivas de fato completo (blazer e saia, claro) a correrem de um lado para o outro de patins em linha ou de ténis, os coreanos que empurram cabides de roupa acabada de limpar a seco por entre os bafos fumegantes do “subway”, os australianos que tocam nas estações do mesmo, noutra escutamos “aleluiah”s de mini coros negros vestidos de azul celeste e branco. Tudo em 5 minutos. Ficámos lá 5 dias.

Turgu Mures não é cosmopolita. Turgu Mures é assim. Só assim. Tem Romenos, Ciganos e Húngaros. Alguns Alemães. Os que resolveram ficar depois da queda do muro. Depois da revolução. Da segunda revolução. E assim é há séculos e séculos.

Na praça principal podemos confirmar isso mesmo. É domingo e os sinos tocam. Cada um dirige-se para a sua igreja. Para a sua Catedral. Na mesma rua temos 3: a ortodoxa, a cristã e, ao fundo, quase sempre vazia, a do protestante Lutero.

Os ciganos rezam de outras maneiras.

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