terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Realidade Virtual

Agora que ando a ler Derrick de Kerckhove (A Pele da Cultura), estou cada vez mais sensível à problemática das novas tecnologias, principalmente a questão da Realidade Virtual.

Até hoje sempre considerei o ser humano (o homem) como um produtor de máscaras. De facto, cada um de nós produz, utiliza, adequa e recicla máscaras consoante as situações e os contextos que tem de enfrentar. Paradigma do que estou a defender é a máscara que utilizamos quando nos deparamos com a vizinha do lado logo pela manhã. “Bom Dia, como está?”, dizemos nós de sorriso aberto. Nos transportes públicos esta é substituída pelas sobrancelhas carregadas e rosto fechado. Fica completa com o “Destak” na mão. Não irei falar das máscaras utilizadas nos locais de trabalho ou em conversas de engate. Parecem-me óbvias de mais.

Derrick de Keckhove dá o exemplo de um topógrafo canadiano (Michael Smart) que, trabalhando para o governo no estado de Ontário, tentava fazer o levantamento de uma região inóspita juntamente com um guia da tribo Algonquin. Reparando que estava perdido, comenta para o seu guia: “Estamos perdidos!”, ao que este responde com ar de espanto: “Não, senhor. O terreno é que está perdido!”

Este exemplo vem colocar em evidência a noção espacio-temporal que caracteriza a nossa cultura ocidental. Com efeito, tendemos a compreender o mundo como sendo estável e estático, e nós, seres humanos, deambulamos por ele. Tal como um actor se movimenta pelo palco. Pelo contrário, outras culturas tendem a considerar o mundo como um espaço fluído e liquefeito, onde o único ponto fixo e imutável é o próprio ser humano. O homem empurra o chão com os seus próprios pés. Quando corre, simplesmente empurra o chão com mais força.

Creio que Derrick de Kerckhove tem alguma razão no que diz.

Enquanto preparo as minhas aulas, programo, efectivamente, o meu mundo. Mergulho no mundo da filosofia. Estou aí, na filosofia (como diria Heidegger). Á noite, e com maior ou menor esforço, e isto porque a mudança de programa requer alguma habituação, reintroduzo o programa familiar. As preocupações são outras, os problemas, as atitudes, as máscaras. No dia seguinte, senão mesmo antes de dormir, instalo o programa do curso de formação que irei animar no dia seguinte pelas 9 da manhã.

Creio que o factor que descriminará o sucesso entre os homens, neste mundo competitivo e global em que vivemos, será a capacidade de habituação, programação e instalação do maior número de programas possível. De preferência simultaneamente, qual processador informático Corel Duo 2.

Estou agora a fazer o download da Roménia.

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