quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

AQUÁRIO

Desde que comecei a dar aulas em Lisboa, passei também a utilizar os transportes públicos. O Metro, para ser mais preciso.

Confesso que, ao contrário de quase todos os nossos contemporâneos, a situação me deleita.

Adoro envolver-me na multidão desconhecida, mergulhar nos sons e nas cores dos outros, escutar conversas e toques de telemóveis baratos, cantar as cantilenas dos cegos e cheirar os perfumes das alunas das escolas secundárias.

Reparei, como se não o soubesse, que Lisboa está mesmo uma cidade cosmopolita. A profusão de línguas, cores e culturas que se encontram numa única carruagem do Metro é algo de extraordinário. Desde o russo ao paquistanês, passando pelo criolo e pelo chinês, todos resolveram submergir num submarino subterrâneo só para me alegrar.

E sempre que passo o cartão azul pela máquina mágica (pip…pip), recordo-me dos meus tempos de aquário, em que comunicava com o mundo por intermédio de sinais de luzes, gestos grotescos, suspiros profundos e aumentos voluntários do som da TSF.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mr. Felizofia,
Relativamente à questão 1, a resposta é 5.
Relativamente à afirmação, a consideração é "muito razoavelmente, porra, eu faria muito pior: enterrava-me todinha".
Relativamente ao metro, serve-me também como barómetro de sanidade mental. Aviva a minha capacidade de receber estímulos nervosos e transformá-los em qualquer forma de conhecimento solipsista (já há tanto tempo que não escrevia esta palavra), que não vale um caracol para ninguém, mas a mim dá-me muito jeitinho.
Bjs

Mimi disse...

que coincidência...
voltei a andar de transportes públicos há pouco tempo. e só agora, quando volta e meia pego no carro, é que reparo no stress absurdo que a condução me trazia. E sim, o Metro e as suas personagens são boa fonte de inspiração.