quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Chata pod Rysmi

À distância de meia hora da fronteira polaca (sim, porque em montanha as distâncias medem-se em tempo) e situada a 2250m de altitude, encontra-se o abrigo de montanha / pensão Chata pod Rysmi.



A fronteira é a do sul.



O território é o dos Altos Tatras, espécie de Alpes Polacos e eslovacos, parque natural de qualidade invejável. Não só pelo cuidado nele posto como pela própria natureza. Ainda lá vivem Ursos em estado selvagem, que namoram com águias reais e cabras montesas em alturas de menor frio. Com a neve chegam os esquiadores e os Ursos escondem-se nas grutas para dormir, fingindo hibernar para não serem chateados.

Embora situado em território Eslovaco, não se pode dizer que este abrigo tenha uma nacionalidade definida. Para além de podermos trocar vários tipos de notas e moedas (Euros, zlotis e coroas, pelo menos) por impagáveis cervejas de meio litro (pivos) e reconfortantes cafés (nada de expressos! Ou turco ou instantâneo!), por lá sente-se uma espécie de fraternidade internacional.

Enquanto recobrávamos da esgotante subida ao ponto mais alto a Polónia (Monte Rysy, 2499m de altitude, sempre defendidos pela chuva, guardados pelo frio e camuflados de nevoeiro – diariamente a partir das 11:00 e até às 17:00), sentados em mesas de forte madeira e bancos corridos e tentando não nos engasgarmos com uma refeição quente ao fim de 8 horas de inclinações
que obrigam à utilização de correntes para a conquista do bicho, somos presenteados com escaladores e hikers oriundos da Suécia, Inglaterra, Checos e, claro está, Eslovacos e Polacos. Também lá estavam uns quantos alpinistas que treinavam para uma subida a um cume qualquer de nome nepalês, mas não consegui perceber a nacionalidade. Também há desvantagens em falarmos a língua de Shakespeare com sotaques macarrónicos. Pelo menos se nos sentamos a duas mesas de distância. Mesmo que estas sejam corridas.



Não há electricidade nem água potável. A noite é conquistada por esquecidos candeeiros a petróleo e lanternas frontais. A água está á disposição em duas tinas de alumínio, logo à entrada. Cada um serve-se numa caneca e leva-a lá para fora para o que tiver de fazer. Eu lavei muitas vezes as mãos e uma vez os dentes. Também não há caixotes do lixo. O que cada um faz, deve levá-lo de volta.

Ainda assim, aquilo que mais chama a atenção nesta desolada região de montanha, onde o cinzento das pedras rejeita o azul do céu e o branco das nuvens se dilui nos restos de gelo que o sol não consegue beber, são as casas de banho. Em tão espartanas condições, seria natural que aquelas também o fossem. Puro engano. A cerca de 100 metros da Casa Abrigo, percorrendo o trilho de cerca de hora e meia em direcção à primeira povoação eslovaca, encontramos umas latrinas profusamente decoradas. Pintura em tons quentes, obra de arte com influências dos movimentos de libertação da década de 60, facilmente reconhecemos os símbolos da paz, do prazer e do sexo livre. A cerca de 10 metros da dita impõe-se um símbolo fálico em madeira esculpido e impecavelmente ornamentado, convidando os mais aflitos a uma breve antevisão do alívio prometido e os mais curiosos a poses para fotografias digitais. Para quem tem mais tempo, estão disponíveis dois bancos de jardim. Isto porque a casas de banho são só para um. Os outros que esperem.

A espera só custa porque o que se vê lá de dentro é de outro mundo. Toda a frente do pequeno cubículo de madeira é de vidro feita. Uma enorme janela de vidro duplo para um vale encantado. Uma sanita rústica que dá para um buraco. Um buraco que dá para o mesmo vale. Sente-se um ventinho agradável no rabo e um prazer enorme na vista. Fiquei lá muito mais tempo do que precisava. E do que devia também, pois o grande pénis já tinha perdido o carácter de novidade e os bancos de jardim teimavam em ser poucos para tanta afluência. Não quis saber e voltei a fazer mais um pouco de esforço para justificar o meu egoísmo em tão imprevisível lugar.

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