segunda-feira, 5 de novembro de 2007

R-X

FAÇA O FAVOR DE RETIRAR TODOS OS OBJECTOS METÁLICOS

Foi em Novembro de 1895, mais precisamente numa 6ª feira, que o professor de física Wilhelm Conrad Röntgen, alemão, se encontrou acidentalmente com um novo tipo de raios. Investigando os invisíveis raios produzidos num díodo (feixes de electrões que se movem de um cátodo para um ânodo num tubo hermeticamente fechado) reparou que estes criavam uma feixe luminoso quando escurecidos. A sua experiência consistia em criar uma “janela” de alumínio por onde os raios pudessem sair e uma folha de cartão pintada com barium platinocyanide onde os mesmos incidiriam. Ora, ao incidirem nessa folha de cartão, Röntgen reparou que criavam uma luz fluorescente nada comum. Estavam descobertos, acidentalmente, os raios x.

SIM, SIM, A ALIANÇA TAMBÉM…

O nome dado a estes raios, que mais tarde iriam ficar mundialmente conhecidos e serviriam de imaginários a um sem número de romances, ficções e heróis da banda desenhada, não foi, tal como a descoberta dos mesmos, propositada. Pura e simplesmente ficaram designados pela expressão matemática do número desconhecido.

Foram 15 dias de intensas experiências, onde o professor passou a dormir no laboratório, escrevendo incansavelmente as suas notas.

Sensivelmente duas semanas após a descoberta da estranha luz fluorescente, tirou a primeira imagem por intermédio dos novos raios. A imagem foi a da mão da sua esposa, Anna Bertha. Consta que, ao observar a imagem do esqueleto da sua própria mão, Anna terá exclamado: “Eu vi a minha morte!”



AGORA DEITE-SE DE BARRIGA PARA CIMA. TEM A CERTEZA QUE NÃO TEM BOTÕES METÁLICOS?

Num destes fins de semana estive com a malta da minha rua. Fomos todos beber e comer a uma cervejaria dos subúrbios. O motivo foi o casamento do Frederico (ou Fred, como é conhecido pelos que cresceram juntos). Eu não fui convidado, claro, pois sou de uma geração mais velha. Quem é da geração dele são os nossos irmãos. E esses foram-no.

No final de um dia de verão, com as luzes dos candeeiros já acesas, alguém lançou uma bola à imaginária barra riscada entre as portas dos prédios. Eram tempos em que os carros não ocupavam todos os lugares de estacionamento. O Fred, miudito, estava à baliza e gritou 3 vezes: “Foi à ‘raba!’”. Um dia depois do seu casamento ainda é conhecido por isso. Há cicatrizes que a vida não gosta de apagar.

AGORA FIQUE QUIETO, SIM?

O convite veio do Miguel. O Miguel era o meu vizinho de baixo.

Pouco depois de se ter mudado para o nosso bairro, enganou-se e foi tocar à nossa porta. Quando a abrimos, o pequenito Miguel, assustado, desatou a chorar. Os pais não estavam em casa. Ainda agora tinham chegado a uma casa nova e já se tinham ido embora. Entrou e ficámos amigos para o resto da tarde. Passávamos os dias à espera de irmos brincar para casa um do outro. Eu sempre preferi os brinquedos dele e gosto de acreditar que ele também preferia os meus. Quando os trocávamos (e eu finalmente podia levar os soldadinhos do Miguel para o campo de batalha na colcha amachucada da minha cama) já éramos amigos para o resto da vida.

Os nossos irmãos nasceram no mesmo ano. O dele, o Filipe, estava sentado ao lado dele. A minha ficou em casa. Nessa noite não pode reencontrar quem nunca perdeu.

TCHACK!

Do outro lado estava o Nuno. Vivia no prédio ao lado e só ficámos amigos mais tarde. Ainda assim tivemos tempo para fazer jogos de futebol até ao por do sol e bastante depois disso. O Nuno jogava muito bem e todos queriam ser da equipa dele. Para além disso nunca se zangava e tinha quase sempre razão. Só reparei que gaguejava quando alguém mo disse. Há cicatrizes que só existem porque os outros querem.

O irmão também lá estava com a sua namorada nova. O Joca veio da Escócia de propósito para o casório. E desta vez a namorada é Polaca. Já lhe tínhamos conhecido uma Inglesa e outra Russa ou Lituana.

VIRE-SE AGORA DE BARRIGA PARA BAIXO, ESTÁ BEM?

Na ponta estava o Pedro. Vivia no prédio da frente e sempre foi o mais conflituoso. Nunca gostou de perder nem que os outros tivessem razão. Era sempre bom tê-lo na nossa equipa, pois dava caneladas nos outros a corria até não poder mais. Foi dos primeiros a falar-me sobre política e a mostrar-me os fundamentos do comunismo, apesar de uma ano mais novo. Era óptimo quando o Pedro podia vir à rua, pois assim já dava para fazermos uma equipa e jogar com a outra rua. E também atirava pedras com mais força do que qualquer um de nós!

O Hugo estava sentado em frente ao irmão mais velho. Ele também se fez forte e foi embora. Rumou à Suíça e aproveitou as promoções da easyjets para vir ao casamento.

AGORA QUIETO, POR FAVOR

Bastante mais tarde chegou o Ruben com a namorada. O Ruben era o irmão da Sandra, a rapariga mais bonita da rua. Todos nos apaixonámos por ela e, cada um à sua maneira, acreditou que ela gostava era dele. Ficámos a saber que já tem 3 filhos e, apesar de recentemente divorciada, foi viver para Espanha.

TCHACK

O motivo do encontro, afinal, não foi o casório, mas a presença do Joca e do Hugo. Manos mais novos, fizeram-se fortes e foram-se embora. É raro vê-los e muito mais precioso encontrá-los juntos. É tão bom quando alguém trata de juntar os que raramente se juntam.

MUITO BEM, PODE ESPERAR LÁ FORA QUE EU JÁ O CHAMO.

Ao contrário da Anna Bertha, sempre que vejo a malta da R-X, vejo a minha infância.

7 comentários:

João Feijó disse...

Gostei. Um abraço

Anónimo disse...

A vida, por variados motivos, torna-nos distantes.
Ou nos mudamos para outra terra, ou casamos e temos filhos e o tempo torna-se mais curto, ou as carreiras de repente tornam-se o mais importante, ou ...
Mas o coração não quer saber de distâncias, e não esquece as futeboladas, as pedras atiradas aos ranhosos do rua ao lado, as noitadas a jogar cartas e a beber rum de 98%, as festas da garagem, as loucas corridas de um Mini sem chão que-quase-atropelou-uma-velha-e-acabou-no-fundo-da-piscina-da-casa-do-pai-da-namorada-dele-agora-mãe-dos-seus-filhos(as).
E o coração adorou todos os segundos do reencontro. Venha o próximo, o mais breve possível, logo que as pessoas agora crescidas queiram voltar à infância.

Prost à R-X

Grilo Falante disse...

Obrigado jf.
Tenho lá passado, não tenho escrito.
Tenho admirado.

Foi pena não teres telefonado antes...

Grilo Falante disse...

Prost!

Anónimo disse...

Quando penso naqueles loucos anos sinto uma nostalgia de uma infância que foi vivida intensamente… como hoje já são raras as que ainda assim são vividas.
Construímos entre nós todos da Rua X uma verdadeira amizade, facto demonstrado pelos anos que passaram e pelo que ainda partilhamos.
A segunda memoria mais antiga que tenho de vida é o episódio em que nos conhecemos, foi com alívio e posso dizer conforto que descobri um amigo para a vida, principalmente num momento de aflição e momentâneo abandono infantil.
Mas lembro-me do teu jeito fantástico para construir soldadinhos, jogar ao berlinde (técnica apurada no colégio V. G.) em que no Inverno no chão dos nossos quartos as caricas eram covas imaginárias e os jogos eram sensacionais.
Lembro-me ainda que já a tua técnica no futebol não era tão acutilante o que levava a que quando marcavas algum golo este era sempre efusivamente festejado, como naquela vez em que em pleno estádio do Maracanã (Desportos e Juventude Mira Sintra) resolves o jogo ao marcar um golo e corremos para um abraço colectivo e esfusiante gritas “beijinho na testa”, erradamente ambos pensamos que era a nossa própria testa e baixamos as cabeças ao mesmo tempo dando um beijo na boca um do outro (esta era para ficar guardada na gaveta mais funda para não estragar a nossa reputação de últimos dos machos latinos).
As noites em que os quatro sentados nos nossos bólides (Mini Rosa , Fiat 127…) depois de alguns líquidos ingeridos (apenas para afastar o frio) tínhamos aventuras hilariantes, como daquela vez em que em plenos “4 Caminhos” no Cacem de madrugada, uma vaca tresmalhada passou pelo meu carro parado, contigo no banco do pendura e os outros estarolas no de trás, ris-te ás gargalhadas e o animal pára a olhar para nós, eu aflito que ele marrasse e me estragasse a chapa queria que te calasses, felizmente tudo correu bem, mas como sempre acabávamos as noites falando das nossas vidas, sentimentos e problemas existenciais que só se partilham com os verdadeiros amigos, e que se recordam cá dentro para sempre.
Como são bons os pequenos momentos que ainda hoje partilhamos entre 2 copos e as aventuras recordadas em companhia uns dos outros. VIVA Rua X… obrigado por serem como são Nuno´s e Pedro.

Mike

o salinas2 disse...

e não é que ao cabo destes anos todos, vejo uma coisa escrita sobre mim, e me revejo incrivelmente e digo mais, quase como o meu raio-x, feito por um amigo da rua x... ele á coisas!!! até a parte do feitio, eu acho que está por de bem, mais que bem analisada, que eu não sou um gajo nada fácil de aturar, embora a vida me tenha tentado, vezes sem conta ensinar e em alguns casos tenha conseguido, a analisar as "coisas", ao contrário do que era habitual, em que a diarreia verbal era por vezes o zénite do meu mau-feitio, e confesso que ainda o é mais vezes que o que era expectável, com 35 anos de vida... mas não podemos ser todos iguais.

toda esta malta lá da rua tem algo que não encontro em mais ninguém, pois iria-me ser muito difíl sentir os mesmos laços por alguém com quem não tenha sido "criado" visto que só somos putos uma vez!!! esta é a malta da minha "criação", como dizem os antigos e quer a malta se veja muito ou pouco, cada vez que estou com eles me sinta em "casa" outra e outra vez... sinto-me de novo na rua x.

o grilo, para mim o nuno, para alguns o "xepa", mas isso contará ele se futuramente, se quiser, sempre foi um gajo que eu sempre admirei, ás vezes até ficava parvo e perguntava-me porquê??? mas a verdade é que eu sempre o achei inteligente e sobretudo fora do comum e a personalidade dele cativava-me, e não, não sou gay...!!!embora tenha mau perder, eu, não o grilo, sempre gostei que ele jogasse na minha equipa, dáva-me um gozo do caraças comemorar um golo do nuno, e no fundo sei que ele também gostava que nós os comemorássemos, sempre teve personalidade de líder e embora nunca tenha sentido que a quisesse impôr sobre os restantes, nos muitos assuntos quotidianos que um grupo de adolescentes pode ter, ele tinha quase sempre uma teoria, ou em alguns casos e nem foram assim tão poucos, uma experiência de vida para partilhar com o "gang", muito te agradeço, nuno!!! muito te agradeço também as tardes que passei em tua casa a jogar computador, como nós dizíamos, agarrados ao velhinho spectrum 16k, com horas infindáveis de chiadeira por parte do leitor de k7's do "bicho",obrigado também, por seres parte integrante da minha equipa de corridas de carica no circuito alcatroado lá da rua, em que ainda me lembro, como se fosse hoje, que escolhemos a renault, porque o teu velhote tinha um renault9 e te parecia com certeza melhor escolha que a marca vauxhall, que era um curioso carro que o meu "velho" tinha, no qual não só se fazia transportar, como também lá fazia "criação" de cogumelos, junto a um buraco, mesmo á frente dos pés do pendura!!! bizarro... eu também nunca escolheria a vauxhall, Blherg!!!

o miguel... sobre o miguel perdia aqui horas a escrever, são tantas as expriências que vivemos juntos que nem sei, não foi por acaso que o escolhi para meu "padrinho" no meu casamento civil e todo o seu conhecimento nas mais variadas áreas também fez dele um exemplo, para mim. amigo incansável desde "putos", guardo dele muitas memórias, entre as quais a já extinta rádio pomada, maioritáriamente feita por nós e com o contributo sempre "hilário" do seu irmão, filipe, do qual eu também sempre me senti irmão, á coisa que não se explicam!!! a rádio pomada consitia numas k7's que eram gravadas com as músicas das nossas "vidas", na altura e com alguns sketches, a que nós particularmente achávamos piada, em que o miguel dava a voz ao locutor, pois foi só aí que descobri que o meu registo fonográfico é terrível, a minha voz é mesmo aguda, nunca gostei dela. muitas horas de gravação tinha aquele "tijolo" em cima, e consequentemente de reprodução, que era quando e cito o meu velho: "partíamos o côco!!!"... por vezes pergunto-me se ainda terá essas bem fadadas k7's???
e os tobolinhas, hem??? isso é que foi!!! autênticos campeonatos mundiais com bonecos que muitas vezes se encontram nos topos de bolos de aniversário, mas que nós coléccionámos á base de comer uns "chupas" manhosos em que saíam como bride. tinhamos campo de futebol, que era aproveitado para fazer tembém campeonatos de futebol carica a que me reportarei mais tarde quando analisar aqui um outro membro da "irmandade"
aquele abraço...

o salinas2 disse...

eu disse que mais tarde voltaria para falar, de mais um dos meus grandes amigos, que por vississítudes da vida é daqueles que raramente vejo...

o futebol carica, tal como o conhecemos depois lá na rua (que me lembre o grilo não era muito dessas andanças, já estava noutro plano espiritual...) foi menos do que adaptado, a palavra certa é mesmo retocado, da maravilhosa diversão que o nuno e o seu irmão joca "implementaram" lá na rua, diversão essa que era sobremaneira treinada ano após ano no pátio dos seus tios, no escaldante verão, em portimão.

esse 2 irmãos, meteram o bicho na malta lá da rua, uns como o miguel e o seu irmão filipe, também praticantes de "tobolinhas" e outros ainda como eu e o meu irmão hugo, que para além do "tobolinhas" jogávamos um pouco de subbuteo, mas como a habilidade para o subbuteo não era das mais apuradas, há que dizê-lo, começámos a ver naquele pano verde outros campeonatos... os maravilhosos campeonatos de futebol carica, que se bem me lembro começaram em força nos idos de 88, por voltas do campeonato da europa de futebol, que a holanda arrebatou na final á extinta união soviética (isso é que era futebol, e com casa cheia a ver...). o nuno fez um maravilhoso equipamento para a selecção vencedora, que era uma réplica quase fiel do original, que me lembre a selecção mais bonita que vi no futebol carica, e foi certo que depois existiram "copianços" e eu assumo, fui um deles, mas como não???

a nossa pancada era tanta, que construí com a ajuda do meu irmão, um estádio com o pano de subbuteo como relvado, com pista de tartan em redor, numa base de contraplacado, no sotão do prédio dos meus pais, com bancadas, bancos de suplentes, onde efectivamente punhamos as caricas que poderíam substituir outras já em jogo e até o marcador "electrónico" do subbuteo, com os nomes das equipas, resultado e sabe-se lá o que mais... é que a sala dos meus pais, já era manifestamente pequena para tanta gente...

foram grandes tempos, em que também passávamos o tempo sempre que podíamos não só no virtual, á base de carica, mas também no real, sábados á tarde, domingos de manhã e sempre que era permitido, ou seja, practicamente todos os dias lá íamos para a preparação do fim de semana, com mais um dérbi lá na rua, no alcatrão, á espera do pelado dos fins de semana, que eram mais duros, aos sábados em conjunto com um pessoal da rinchoa, contra uma malta de timor, mais velha e rijos como só aquela terra soube moldar, irra...!!! ao domingo, era com os velhos e eu o miguel e o nuno estávamos lá batidos, nem que nos tivéssemos de levantar ás 6 da manhã, para ficar no grupo dos primeiros 22, que era o 1º imperativo para ser escolhido, o garante de jogatana até ás 11, pelo menos, mais para o meio-dia... saíamos de lá todos rebentados, muitas vezes á tarde nem me mexia... tudo isto e ainda um basketzinho na escola primária lá ao lado, um volei na mesma escola, ou melhor no seu portão, a lágrima ou 4 cantos para outros e guerra de canudos, com que alguns já não atinavam tanto, mas que eu gostava e muito...

tudo isto fez da rua-x uma rua muito especial... crescemos num bairro a que muita gente apontava o dedo, mas do qual eu só tenho as melhores recordações e gostava que a minha filha tivesse um ambiente igual e amigos como eu tive para crescer, mas não se vislumbra fácil!!!

um abraço a todos os meus amigos...