terça-feira, 18 de setembro de 2007

A PRINCESA DO ALVA

Sentada nas margens do rio que um dia irá herdar, molha os pés com medo de pisar algum girino acabado de nascer. Apesar de muito abundantes no final do verão, são difíceis de encontrar. Normalmente vêm das ribeiras que se desfazem no leito limpo mas escuro por causa do fino húmus que se desfaz nos seus muitos buracos, casa das cabras cegas, trutas, enguias e cobras d’água. Gostam de se esconder por entre os seixos pretos, roliços e espalmados. Quando começam a ter patas, adora vê-los indecisos sobre o seu papel na natureza, também ela híbrida. Ora saltam, ora nadam, sem saberem lá muito bem o que fazer com tão estranhos apêndices.

É uma princesa branca e bela, como o são todas.

No Inverno fecha-se em casa, com medo do nevoeiro que sobe do rio. Principalmente de noite. O dia, quando vem despido e sem lágrimas, é aproveitado para namoriscar as videiras, o milho, os pinheiros e os castanheiros que fazem companhia às oliveiras. De vez em quando também visita as couves, os nabos e as batatas. Quando lhe apetece vai buscar umas cavacas só pelo prazer de as atirar à lareira.

É uma princesa branca e muito bela. Tem uma pele sedosa como teriam as flores se tivessem pele.

Vou visitar a princesa do alva menos vezes do que gostaria. Talvez umas três vezes por ano, não mais. Quando era pequeno ficava na sua companhia durante os três meses de Verão. Adorava ouvir as suas histórias. De quando em vez contava-me um ou outro dos segredos do campo. Nunca falava dos mistérios do rio. E esses eram imensos.

É uma princesa amada pelo seu povo, como o são quase todas.

Fez há pouco tempo 84 anos e o seu nome é Esperança.

1 comentário:

mai xinti disse...

Ora aqui está um excelente texto....
love
MA